Estoque de medicamentos hospitalares. -

Muitos hospitais brasileiros estão com baixo estoque de medicamentos, enquanto distribuidoras se desdobram para atender a demanda

O mês de abril foi o pior momento da pandemia no que se refere à média de mortes diárias de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Diversos hospitais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro relataram a falta dos medicamentos que compõe o “kit intubação”, isto é, analgésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares, indispensáveis no tratamento de pacientes intubados em estado grave.

Ainda que nos estados mais populosos a situação crítica seja mais evidente, diversos municípios relataram a necessidade, por parte de alguns hospitais, de desativar leitos de UTIs, devido à escassez de medicamentos para intubação de pacientes.

Atualmente, todos os estados brasileiros trabalham com estoques mínimos, suficientes para quinze dias, no máximo. Há hospitais cujos estoques fornecem suprimentos para sete dias, apenas.

O assunto em questão tem mobilizado a classe de gestores hospitalares, profissionais especializados, cujo trabalho envolve (dentre inúmeras competências) o planejamento de compra e a aquisição dos medicamentos que são utilizados nos hospitais, sejam eles públicos ou privados.

Em primeira instância, cabe ao gestor gerenciar os estoques da instituição ou rede hospitalar da qual faz parte.

IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTOS

Se a superlotação dos hospitais e o número crescente de mortes já se mostravam como realidades difíceis, enfrentadas diariamente pelos profissionais da área da saúde, a crise de abastecimento de medicamentos provocou amargas inseguranças, impelindo gestores hospitalares a saírem em busca de empresas distribuidoras com capacidade de atender a demanda.

A indústria nacional, por sua vez, se encontra no limite de sua produção, cujo volume não é suficiente para atender o fluxo atual de consumo de medicamentos, direcionando os gestores para o mercado internacional.

O executivo do setor de medicamentos, Jabez Medeiros, concedeu entrevista sobre a importação e distribuição dos fármacos do kit intubação: “Fomos alertados de que aumento de pessoas internadas iria refletir no ritmo de consumo de medicamentos hospitalares. A saída foi expandir nossas negociações com os produtores estrangeiros, elevando o volume de importação de modo exponencial”.

A importação direta de medicamentos é um processo que pode ser muito complexo e inacessível para a maior parte dos gestores, que conta com o trabalho de empresas importadoras e distribuidoras para preencher essa lacuna.

A DECISÃO NO TEMPO CERTO 

Segundo Medeiros, o maior desafio para o gestor hospitalar é tomar uma decisão acertada no tempo apropriado.

“Os recursos financeiros de cada instituição são limitados, portanto, cada produto adquirido deve ser aproveitado ao máximo. O gestor precisa ter a capacidade de se antecipar aos fatos, por meio de um planejamento detalhado, já que uma escolha errada ou tardia pode refletir na vida de pacientes que dependem de determinado medicamento, por exemplo”.

FACILIDADE PARA GESTORES DE HOSPITAIS

Acesso a medicação importada 

Um formulário para pré-cadastro de instituições que buscam antecipar-se ou para hospitais que estão em emergência na busca de medicamentos foi disponibilizado pelo executivo, visando uma rápida comunicação com os hospitais que entrarem em contato.

O executivo complementa, esclarecendo que, em última instância, o estado é responsável pela manutenção dos estoques, caso a gestão hospitalar falhe ou tenha dificuldade em exercer seu papel, como foi o caso de diversos hospitais que solicitaram ajuda ao Ministério da Saúde para obter os medicamentos em falta.

“Em minha experiência no setor de distribuição, percebo que os bons gestores, ao compreender que a aquisição de medicamentos importados pode implicar um prazo maior, desde a ordem de compra até a entrega dos medicamentos, procuram planejar e executar seus pedidos com antecedência. ”

Ao ser perguntado sobre a capacidade das empresas distribuidoras em fornecer volumes suficientes de medicamentos e insumos hospitalares, Medeiros responde de modo afirmativo.

“Estamos conseguindo atender a todos, apesar da alta demanda. A nossa recomendação aos gestores é que façam seus pedidos com o máximo de antecipação possível, evitando uma nova crise de medicamentos”.

 Os fármacos mais utilizados na intubação de pacientes são: Fentanil, Midazolam, Cetamina, Propofol, Atracúrio, Rocurônio e Morfina.

“Procuramos atualizar constantemente os gestores hospitalares acerca da disponibilidade de medicamentos em nosso estoque. Muitas vezes, entramos em contato via e-mail ou por mensagem. Ainda que o abastecimento ideal só seja possível após a pandemia, é a nossa missão fazer com que estes medicamentos cheguem ao maior número de hospitais possível”.

Entrevistado: Jabez Medeiros – Executivo do setor de medicamentos.

Fonte Correio do Estado