Em intervalo de dois meses, litro do biocombustível subiu R$ 0,60; em um ano o consumidor passou a pagar R$ 1,29 a mais

Considerado um bom substituto para a gasolina, o etanol hidratado também enfrenta alta de preços, assim como os combustíveis fósseis. Em um ano o litro do biocombustível aumentou 32,25% em Campo Grande, saindo de R$ 4 para R$ 5,29.

A alta demanda pelo produto e a quebra da safra de cana-de-açúcar impactaram nos preços.

De acordo com os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no mesmo período a gasolina aumentou R$ 5,56 para R$ 6,94-alta de 24,82%. E o diesel sofreu reajuste de 54,85% nos postos da Capital-indo de R$ 4,12 para R$ 6,38.

Em todo o Estado o aumento foi parecido, o litro do etanol aumentou de R$ 4,07 para R$ 5,36 (31,69%). No mesmo intervalo, o litro da gasolina passou de R$ 5,58 em abril de 2021, para R$ 7,02 no mês vigente-alta de 25,80%.

O preço médio do litro do diesel apresentou variação de 56,14%, passando de R$ 4,15 no ano passado para R$ 6,48 em abril de 2022.

ALTAS

No intervalo de dois meses foram registrados aumentos na ordem de R$ 0,60 no preço médio do etanol, R$ 0,98 no do diesel e R$ 0,70 da gasolina comum.

Diferentemente da gasolina e do diesel, que foram influenciados fortemente pelo reajuste de 18% e 20% da Petrobras no começo de março, o etanol teve alta gradativa no período.

Conforme a ANP, o preço do etanol hidratado, vendido nas bombas dos postos de combustíveis, apresentou duas grandes altas mensais nos últimos 60 dias. A primeira, foi da segunda para a terceira semana de março, com aumento de R$ 0,25 no preço médio praticado em Campo Grande.

No mesmo período de abril, outro aumento no preço médio atingiu as bombas. O combustível passou a ficar R$ 0,21 mais caro. Neste meio tempo, todas as semanas apresentaram altas pequenas, nunca se mantendo estável.

Iniciada no dia 27 de fevereiro, a pesquisa demonstra que o litro de etanol mais barato em Campo Grande era comercializado a R$ 4,46 e o mais caro a R$ 4,98.

Na semana finalizada no dia 16 de abril, o valor mínimo já era comercializado a R$ 5,05 e o máximo a R$ 5,72, altas de 13,22% e 14,85%, respectivamente. Já o preço médio saltou de R$ 4,71 para R$ 5,30 em dois meses, variação de 12,52%.

Sobre o preço do biocombustível, Edson Lazaroto, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência de Mato Grosso do Sul (Sinpetro-MS), diz que não tem autoridade no assunto.

“Subiu muito mesmo, mas o sindicato dos produtores de etanol que pode falar. A gente pratica o preço das usinas, medido pela Esalq”, comenta.

O etanol anidro, vendido nas usinas de São Paulo, apresentou o mesmo tipo de alta, sendo vendido a R$ 3,30 o litro em 2021, e a R$ 4,22 nesta semana, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP).

DEMANDA

Economistas apontam que o aumento também está atrelado ao deslocamento de demanda de um produto para outro. Com a alta da gasolina, é comum que motoristas passem a preferir o produto substituto, e dessa forma contribuam para a alta do outro combustível pelo simples aumento de demanda.

O doutor em economia, Michel Constantino,  explica que a alta dos preços tem dois componentes principais.

“Como são produtos concorrentes, o aumento do preço de um [gasolina], faz com que aumente a demanda do outro [etanol]. O outro elemento é a oferta de etanol que não aumenta na mesma proporção, o preço tende a subir gradativamente com esse movimento do mercado consumidor”, explica.

PRODUÇÃO

Outro ponto destacado pelos especialistas consultados pela reportagem é o período de entressafra da cana-de-açúcar. As unidades no centro-sul trabalham com estoque nesse período.

Com o aumento no preço da gasolina, os consumidores migram para o etanol o que pressiona o preço pela demanda. Um movimento cíclico, de recorrência anual.

O economista Fábio Nogueira aponta quatro variáveis atreladas ao preço do etanol.  A primeira delas é a produção, que apresentou queda no último ciclo produtor.

De acordo com o relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), MS deve apresentar retração de 9,8% na produção de cana-de-açúcar na safra 2021/2022, na comparação com o período 2020/2021, saindo de 48.991 toneladas para 44.180  toneladas.

O segundo é o aumento do preço de compra do açúcar no mercado internacional e o terceiro, o aumento dos preços dos combustíveis principais, como a gasolina.

“Quanto maior o preço, maior deslocamento da demanda: esses três fatores estão ligados ao preço: o aumento do valor pela redução da oferta [produção de etanol, via redução de safra]; pela redução da oferta de etanol, com alta produção de açúcar; e aumento dos preços pelo encarecimento do transporte logístico [com alta do diesel, frete e produção]”, enumera.

Segundo ele, o quarto movimento é o de substituição do meio de transporte.

“Considerando o aumento dos combustíveis, como se diz na microeconomia, temos o produto substituto. Neste caso, o automóvel de passeio, dá lugar a veículos mais econômicos, como motocicletas, bicicletas elétricas, bicicletas, entre outras alternativas”, analisa.

Fonte: Correio do Estado