Operação na Vila Cruzeiro contabiliza ao menos 22 mortos, mas número pode aumentar. Jacarezinho, no ano passado, somou 28 óbitos.

Mais uma operação policial na cidade do Rio de Janeiro voltou a chamar atenção pelo alto número de mortos no confronto. Até a tarde desta terça-feira (24), 22 pessoas haviam morrido na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha: foi a segunda mais letal da cidade, ficando apenas atrás da que aconteceu no Jacarezinho, em maio de 2021, com 28 óbitos.

O comando da Polícia Militar afirmou que a operação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) estava sendo planejada há meses, mas foi deflagrada de modo emergencial para impedir uma suposta migração para a Rocinha.

“Durante a madrugada, identificamos uma grande movimentação de criminosos, e por conta disso desencadeamos essa ação. Provavelmente, para haver uma invasão”, explicou o coronel Luiz Henrique Marinho Pires, secretário de Polícia Militar.

O objetivo era prender chefes do Comando Vermelho escondidos na Vila Cruzeiro, além de lideranças da facção de outras favelas do Rio e até de estados do Norte e do Nordeste.

O porta-voz da PM, coronel Ivan Blaz, lamentou a morte de uma moradora, mas defendeu a operação e a força empregada no confronto contra a facção que atua na Vila Cruzeiro.

“Precisamos desbaratar essa quadrilha, que é beligerante e já é hoje responsável por mais de 80% dos confrontos armados do Rio de Janeiro. Essa facção criminosa que opera ali na região da Vila Cruzeiro atua numa campanha expansionista em todo o nosso estado”, afirmou em entrevista ao Bom Dia Rio.

Método é questionado

Esse método, no entanto, é questionado pelo sociólogo Daniel Hirata, do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF), que monitora números da violência no Rio de Janeiro.

“Essa já é a segunda operação policial mais letal da cidade do Rio de Janeiro. Elas têm sempre o mesmo padrão: usam forças especializadas do estado – que deveriam ajudar a conter o confronto – , mas só aumentam. São feitas de modo emergencial e não resolvem o problema do crime comum, nem dos grupos armados. Só aprofunda “, diz Hirata.

Veja as operações mais letais da cidade do Rio de Janeiro.

  • Jacarezinho (maio de 2021) – 28 mortos;
  • Vila Cruzeiro (maio de 2022) – 22 mortos;
  • Complexo do Alemão (junho de 2007) – 19 mortos;
  • Senador Camará (janeiro de 2003) – 15 mortos ;
  • Fallet/Fogueteiro (fevereiro de 2019) – 15 mortos;
  • Complexo do Alemão (julho de 1994) – 14 mortos;
  • Complexo do Alemão (maio de 1995) – 13 mortos;
  • Morro do Vidigal (julho de 2006) – 13 mortos;
  • Catumbi (abril de 2007) – 13 mortos;
  • Complexo do Alemão (agosto de 2004) – 12 mortos;
  • Fonte: GENI/UFF

Daniel Hirata fala ainda da tentativa do estado passar um recado, mas reforça que ele precisa ser mais efetivo.

“Parte das pessoas que morreram hoje trabalhavam para o tráfico, mas sabemos que amanhã o dobro de pessoas estarão aptas a entrar para essas fileiras. Essa dinâmica com operações só aprofunda o problema. Existem outras medidas mais efetivas e que podem ser empregadas”, diz.

Entre elas, o sociólogo cita a regulação de mercados legais e ilegais que acabam sendo a base de sustenação econômica de facções do tráfico e de milícias.

“Se você regula transporte alternativo, habitação, arma e drogas, você acaba com a base de sustenção econômica desses grupos. Eles não vão ter mais dinheiro para comprar arma, cooptar pessoas e vai diminuir o número de mortes”, diz.

Veja quem são alguns dos mortos da operação da Vila Cruzeiro

Pelo menos 22 pessoas morreram durante uma operação da Polícia Militar na Vila Cruzeiro, comunidade na Zona Norte do Rio, e regiões próximas.

Segundo a polícia, ao menos 12 eram suspeitos de integrar o tráfico de drogas. Uma vítima era uma moradora, vítima de bala perdida atingida dentro de casa. Os outros ainda não foram identificados.

Por Eliane Santos, g1 Rio