Estudante embarcando no terminal itinerante - Foto: Gerson Oliveira

Passageiros relatam brigas de alunos em terminais por lugar em veículos; Consócio mantém frota reduzida mesmo com volta às aulas

Os atrasos e reclamações do transporte coletivo de Campo Grande são pautas recorrentes entre as 183. 253 pessoas que utilizam o transporte público diariamente na capital.

O número é referente ao último levantamento feito em 2018, pela Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran).

Na última quarta-feira (30), passageiros presenciaram cenas de brigas e correria de estudantes no terminal Guaicurus, em Campo Grande.

A justificativa dos alunos é a falta de ônibus para transportar todos os alunos até as escolas. O cenário é recorrente e tem se intensificado após o retorno das aulas.

Segundo Paula de Oliveira, que registrou o momento com o aparelho celular, os estudantes se espremem e lutam para conseguir uma vaga no veículo.

“Na hora da foto veio um fiscal coordenar a aglomeração de alunos na porta do ônibus. Ele não deixou os alunos embarcarem porque estavam fora da fila. Estava enorme e eles tinham horário, porque às 7 começa as aulas. Teria que ter mais um 089 expresso.”pontua.

A passageira afirma que o problema é causado pela retirada da linha 062 e que a rota do ônibus foi substituída, em vão, pelo reforço da linha 68.

“O 068 tava vazio, passa tipo um reforço do 061. Então ele passa toda hora vazio. Vai até o Morenão gastar óleo atoa sendo que poderia ser o 062.”, ressalta.

De acordo com a estimativa populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de habitantes em 2021 na capital correspondia a 916.001 pessoas. Cerca de 129.204 mil a mais do que o último censo demográfico realizado pelo instituto em 2010, quando a população campo-grandense era de 786.797 mil pessoas.

Entre o censo e a última atualização pública do número de veículos do transporte coletivo municipal, divulgado pela Agetran, apenas 31 novos veículos foram adicionados à frota municipal no período. Com a população 14,10% maior, e apenas 31 novos carros em serviço, gerida pelo Consórcio Guaicurus, conflitos entre população e o uso do transporte são inevitáveis.

De acordo com João Rezende, presidente do Consórcio Guaicurus, a empresa atua por meio de ordens de serviços emitidos pela prefeitura. Questionado sobre o modo de relacionamento entre executivo municipal e Consórcio Guaicurus, Rezende disse “nosso trabalho é reparar os problemas, inclusive, se necessário, ir presencialmente ao local, ao terminal, identificar a linha para sanar a questão”.

Segundo Rezende, o Consórcio Guaicurus busca atender o “cliente” de forma satisfatória, e reconhece que os problemas surgem frequentemente. Para ele, atuar de forma conjunta com a prefeitura é essencial para corrigir as falhas da mobilidade urbana da capital.

“Em algumas oportunidades, o cliente não tem razão, em muitos casos, sim. Uma senhora nos procurou para falar sobre a linha que pegava, e sobre o seu deslocamento até o veículo, pois o ônibus não passava próximo de sua casa, fomos até ela e corrigimos o problema”, finalizou o presidente do Consórcio Guaicurus.

Críticas 

Moradora de Campo Grande desde fevereiro deste ano, Maria Luiza Medeiros (19) critica a linha 506 (Roselândia-Morenão). “A linha deveria contar com mais veículos e novos horários, pelo menos durante a semana”, disse a estudante de direito.

Segundo Maria Luiza, o veículo passa uma vez por hora, o que, segundo ela, dificulta seu deslocamento ao serviço, à faculdade, além de lugares próximos ao centro da cidade.

“Minha aula começa às 8h. O trajeto de carro dura em média 15 minutos, já no ônibus, tenho que acordar entre 5h e 5h30 e pegar o ônibus às 6h30, ou seja, 1h30 antes do início das aulas”, relatou. Maria Luiza se desloca diariamente até a Faculdade Unigran.

Descaso sem idade

Dona Margarida Chamorro (57), mora nas Moreninhas e pega o expresso 089 diariamente até o  trabalho. Com a redução da frota a linha deixou de passar no local de embarque e prejudicou não só Dona Margarida, como inúmeros estudantes que precisam do transporte público.

Ela relata que acorda 4h30 da manhã, pega um ônibus até o terminal Guaicurus apenas para pegar o 087 e seguir para o trabalho. Antes, com a linha 062, Margarida não precisava antecipar a viagem, pois o ônibus passava próximo da residência onde ela mora e parava direto a algumas quadras da igreja Universal, local ideal para ela.

“Eu acho que a linha 62 tem que voltar! Ta difícil pra mim que trabalho aqui perto da igreja universal. Tem muitos estudantes e por isso quê tem que colocar mais ônibus. Eles falam que vai melhorar os ônibus, eu não vejo nenhuma melhoria! Passagem subiu para R$ 4, 40 e mesmo assim a gente tem que vir no ônibus lotado que parece uma lata de sardinha.”, lamenta.

Paula de Oliveira, acentua que já cansou de dar explicações para o chefe por chegar atrasado mesmo saindo às 6 da manhã de casa.

“Eu entro 7h15 no serviço, saio de casa 6h pego o 061 tenho que descer lá no Guaicurus pra pegar o 87 lotado, o povo quase esmaga uma senhorinha, e o povo fica pra trás e eles não colocam mais expresso. O 114 e 116 cheio e eu chego todo o dia depois das 7h20!”, destaca Paula.

A passageira relata que na briga entre o Consórcio e a Agetran, quem perde são os estudantes e os trabalhadores.

A gente liga lá no Consórcio e eles jogam a culpa na Agetran, liga na Agetran e fala que isso aí é o Consórcio Guaicurus que tem que resolver. Então fica esse joga pra um e joga pra outro, aquela coisa.”, revela.

Além disso, Paula acrescenta que o Consórcio Guaicurus estariam esperando a superlotação dos veículos para “fazer render” a viagem. “Eles deixam juntar bastante gente, na hora que vê que tá cheio. A pessoa fica lá 40 minutos, 1 hora aguardando o ‘Moreninha’ aí sabe o que eles fazem? Falam que o reforço é a linha A, vão colocando conforme o terminal enche.” termina.

Tarifa

O reajuste na tarifa do transporte público subiu de R$ 4,20 para R$ 4,40, acréscimo de 4,46% em janeiro deste ano. Hoje (31), o prefeito Marcos Trad (PSD), em evento na Câmara Municipal, negou um novo acréscimo nas taxas do transporte. A fala veio após o Consórcio Guaicurus solicitar que a tarifa técnica, calculada em R$ 5,14 no ano passado, suba para R$ 5,50, em razão do aumento de 18% do diesel.

Fonte Correio do Estado