Divergências entre PSDB e MDB em três estados-chave emperram o anúncio do apoio tucano à pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) à Presidência. A aliança ficou mais próxima após o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), retirar sua candidatura no início desta semana. O PSDB, contudo, cobrou o apoio emedebista a seus pré-candidatos ao governo em Pernambuco, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, estados em que o partido de Tebet alinhou outras candidaturas.

Além desses três estados, MDB e PSDB podem se enfrentar em disputas ao governo no Amazonas, Paraíba e Distrito Federal, e caminham para estar em chapas distintas em Minas Gerais, Goiás e Alagoas.

A cobrança pelo apoio do MDB nos três estados-chave foi vocalizada pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” na quarta-feira, Araújo descreveu como “fundamental”, para garantir o apoio do PSDB a uma chapa liderada por Tebet, a “reciprocidade” emedebista aos candidatos tucanos aos governos de Pernambuco, Raquel Lyra; do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Jr, atual governador; e do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel.

No Sul, lideranças partidárias avaliam que Ranolfo abriria mão de tentar a reeleição caso o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) decida concorrer novamente ao cargo. Leite renunciou em abril, transmitindo a cadeira ao vice, Ranolfo, vislumbrando uma candidatura à Presidência. O pré-candidato do MDB ao governo, o deputado estadual Gabriel de Souza, tem boa relação com Leite. Nas últimas semanas, o ex-governador tem declarado se manter afastado de articulações nacionais e dedicado à sucessão no estado, e disse ver com bons olhos um apoio do PSDB a Tebet.

Souza construiu consenso em torno de sua candidatura no MDB gaúcho, que tem alas mais próximas ao bolsonarismo, justamente pela expectativa de atrair o apoio de Leite, que desde 2018 nega ter planos de reeleição. O presidente do MDB no estado, Fábio Branco, afirma que o partido não debate a retirada da candidatura de Souza. Branco diz ainda que o MDB “desde a redemocratização sempre lançou candidato ao governo” gaúcho, argumento semelhante ao usado por alas do PSDB que rejeitam o apoio a Tebet em âmbito nacional.

“Nosso projeto é uma continuação do governo Leite, que deu continuidade à gestão Sartori (MDB). Por isso, temos interesse no PSDB na coligação. Mas entendo que sequer cabe responder essa afirmação (de Araújo), que foi feita em caráter individual. Em nenhum momento a retirada de candidatura do Gabriel foi discutida”, afirmou Branco.
No Mato Grosso do Sul, estado de Tebet, PSDB e MDB são aliados no governo do tucano Reinaldo Azambuja – o deputado estadual Eduardo Rocha, marido da senadora, foi nomeado secretário de Governo de Azambuja em novembro. O MDB, contudo, lançou como pré-candidato o ex-governador André Puccinelli, enquanto Azambuja pretende fazer como sucessor o ex-secretário Eduardo Riedel (PSDB).

Além da disputa local, um entrave à aliança é o fato de que Riedel já declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele pretende ter em sua aliança a ex-ministra Tereza Cristina (PP), pré-candidata ao Senado com aval de Bolsonaro.

Puccinelli, por sua vez, planeja manter a candidatura como uma retomada de sua carreira política. Ele pretendia concorrer ao governo em 2018, mas foi preso pela Polícia Federal (PF) em junho daquele ano, em meio a investigações sobre supostos repasses da JBS a uma empresa de sua família, e só foi solto após as eleições. À época, houve um estremecimento na relação entre Puccinelli e Tebet, já que a senadora se recusou a assumir a candidatura ao governo.

Em mensagem divulgada em um grupo de WhatsApp da Executiva estadual do MDB, o ex-deputado e ex-ministro Carlos Marun afirmou que “não há possibilidade” de retirar a candidatura de Puccinelli, e que levou esta posição à direção nacional do partido. Ao GLOBO, Marun confirmou a mensagem e disse que “não é impossível” uma união entre os dois partidos no primeiro turno da disputa estadual, mas que é “mais provável” haver aliança em um eventual segundo turno.

Marun afirmou ainda que vê com naturalidade um eventual apoio de Riedel a Bolsonaro, devido à sua proximidade com o agronegócio e com a ex-ministra Tereza Cristina.

“Riedel é uma força que nós respeitamos. Entendo que as duas campanhas, a dele e a de André, já estão muito consolidadas. Sobre a situação do Eduardo (Rocha), não vou negar que gostaríamos que ele estivesse na campanha de André, mas respeito a escolha dele de estar no governo”, disse Marun.

Já em Pernambuco, o MDB pretende apoiar a candidatura de Tebet de forma desvinculada do palanque estadual. O partido tem um acordo local com o PSB, do governador Paulo Câmara, que lançou o deputado Danilo Cabral como candidato à sucessão. Pelo acordo, uma espécie de “coligação informal” nas chapas legislativas, o PSB abrigou pré-candidatos a deputado estadual que saíram do MDB, como Jarbas Vasconcelos Filho. Já o MDB lançará a deputado federal nomes que disputaram a última eleição pelo PSB.