A saída do presidente da empresa que se recusou a dar desconto é o primeiro passo para conter alta, como quer Bolsonaro
A recusa de vender diesel com desconto aos consumidores, alertando que isso causaria escassez do produto, levou à demissão de José Mauro Ferreira Filho, que comandou a Petrobras por apenas 40 dias. Ele é o terceiro CEO da empresa demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por causa dos preços dos combustíveis.
O presidente, que busca a reeleição em outubro, mas tem ficado atrás nas pesquisas, diz que a companhia deve usar seus lucros para reduzir os preços dos combustíveis e ajudar a controlar a inflação.
A demissão também abriu o caminho para uma série de mudanças que o governo vai fazer na petroleira. O ministro de Minas Energia, Adolfo Sachsida, vai fazer alterações no conselho de administração da estatal. E a direção também deverá ser afetada.
A Petrobras estava perto de anunciar novo reajuste de gasolina e Bolsonaro quer evitar novos aumentos neste momento de alta volatilidade do preço internacional.
Para isso, o presidente pretende alterar a forma de reajuste dos preços dos combustíveis da empresa. Uma fonte do governo disse que é uma questão de sequência até chegar às mudanças que o presidente pretende implementar.
Além disso, o Brasil está entrando em uma janela crucial para garantir o fornecimento de diesel e a administração da Petrobras alertou o governo na semana passada que as bombas podem ficar secas durante o momento de maior exportação de grãos se a empresa não vender combustível a preços de mercado.
A Petrobras disse que a empresa e outros importadores terão dificuldades para garantir o diesel em meio à escassez mais grave do combustível em 14 anos.
Analistas, importadores privados e funcionários da agência reguladora de petróleo ANP ecoaram essas preocupações, disseram pessoas familiarizadas com as negociações, que pediram anonimato para discutir o assunto politicamente sensível.
A apresentação da Petrobras sinalizou o risco de desabastecimento no terceiro trimestre, quando a demanda por diesel aumenta sazonalmente no Brasil e nos Estados Unidos.
“Se não houver sinal de preços de mercado à frente, há risco material de desabastecimento de diesel no pico de demanda da safra, afetando o PIB do Brasil”, disse a Petrobras na apresentação intitulada “Combustíveis: desafios e soluções” e datada de maio de 2022.
O fornecimento de diesel tornou-se uma preocupação global desde que as sanções contra a Rússia reformularam o comércio de combustível e levaram os estoques internacionais para mínimos históricos. Os países importadores estão avaliando o risco de aumento de custos e escassez de oferta, já que a indústria fecha refinarias para reparos ou para reduzir as emissões de carbono.
“Os estoques globais de diesel estão muito abaixo da média histórica”, disse a Petrobras na apresentação compartilhada com o Ministério de Minas e Energia. “A Petrobras sozinha não pode resolver o aumento global dos preços da energia.”
O comunicado divulgado perto da meia-noite na segunda-feira pela Petrobras indica que Bolsonaro também pediu a eleição de um novo conselho, abrindo caminho para uma completa reformulação da gestão executiva.
Os subsídios aos combustíveis custaram ao Brasil cerca de R$ 7,5 bilhões (US$ 1,6 bilhão) em 2018, quando o ex-presidente Michel Temer os implementou por alguns meses para interromper um protesto nacional de caminhoneiros.
O custo de uma medida semelhante este ano pode ultrapassar os R$ 60 bilhões, estimou uma das pessoas próximas às discussões.
A invasão da Ucrânia pela Rússia elevou os preços do petróleo bruto para uma máxima de 14 anos. Este mês, a escassez global levou os comerciantes de diesel a pagar um prêmio de mais de US$ 50 por barril.
No máximo, os estoques brasileiros de diesel podem cobrir cerca de um mês da demanda nacional. Na Petrobras, os suprimentos estão com cerca de metade da capacidade, segundo duas fontes.
O Brasil registra maiores embarques a partir do segundo semestre com a entrada da segunda safra de milho, que se soma a exportações de soja. A maioria dos grãos chega aos portos por meio de longas rotas de caminhões.
A empresa começou a recorrer a fornecedores mais distantes na África Ocidental e na Índia, disse uma das fontes. Mas enquanto uma carga de diesel do Golfo leva de duas a três semanas para chegar ao Brasil, um navio da Índia pode levar de 45 a 60 dias.
Do R7, com Reuters e Agência Estado