Pouco mais de um ano depois de romper com o irmão Cid Gomes, Ciro Gomes ensaia agora sua própria ruptura com o PDT, mas não por coerência política, nem por divergência ideológica legítima. A debandada de seu grupo, como o ex- prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio liderando a fila rumo ao União Brasil, revela um movimento há muito anunciado: o progressismo do cirismo ruiu, e o que resta é um amontoado de ressentimentos, vaidade e conveniência eleitoral.
A desconstrução de um projeto histórico
Ciro não está apenas mudando de partido. Está desmontando, tijolo por tijolo, o legado que ajudou a erguer. Sua trajetória de ex-ministro de Itamar Franco e Lula a presidenciável de centro-esquerda — agora dá lugar a uma figura errática, que flerta com os setores mais retrógrados da política nacional.
Ao se juntar a deputados do PL e do União Brasil na Assembleia Legislativa do Ceará e declarar disposição para o “sacrifício” de disputar o governo, Ciro acena para um campo político que antes dizia combater.
Do projeto nacional de desenvolvimento ao conservadorismo reacionário
Quem ainda vai com Ciro
Roberto Cláudio, até pouco tempo tido como sucessor natural, é o primeiro a migrar. Outros seguirão. Mas com que base Ciro pretende se sustentar nesse novo campo. O bolsonarismo já tem seus líderes e símbolos. O eleitorado progressista, que ainda via nele um resquício de esperança, sente-se traído.
O centro, por sua vez, não vê no ex-governador o equilíbrio necessário. Há espaço político para mais um ex-esquerdista convertido ao discurso da antipolítica.
Epílogo de um personagem complexo
Ciro Gomes já foi um dos políticos mais instigantes do país. Inteligente, intempestivo, profundo conhecedor da realidade brasileira. Mas nos últimos anos se perdeu em seu próprio labirinto de mágoas, ataques descontrolados e escolhas erráticas.
A saída do PDT é apenas o último ato de um roteiro melancólico: o fim de um projeto que poderia ter sido muito mais do que uma nota de rodapé na história recente do Brasil.